segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

VIDA MODERNA




Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.

O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por
experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu
estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo !
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher na cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésia.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal...Tchau....
Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

(Luís Fernando Veríssimo)

Meu cachorro

Meu cachorro está doente. É um husky e tem 14 anos. Dizem os conhecedores da raça que 12 anos é o tempo normal de vida. Mas sempre tive esperança de que fosse muito além. A mãe viveu até os 17. Seu nome é Uno. Não é muito comum, mas tem um motivo. Meu irmão e minha cunhada, há muitos anos, resolveram montar um canil em Campinas. Só de huskies. Compraram macho e fêmea de uma linhagem gloriosa. O avô, importado do Canadá, foi até capa de revista especializada. Registraram o canil. Alimentaram o casal, deram vacinas e prepararam-se para fazer fortuna. Logo uma ninhada estaria a caminho. Meu irmão fez as contas. Na época, o husky era muito valorizado. Com um certo número de cãezinhos, teria um bom lucro!

– Serão dez, onze? – sonhava minha cunhada Bia.

Nasceu um. Sim, um somente! Ganhou o nome de Uno, e me foi dado de presente. A grana ficou na imaginação.

Uno me acompanha desde então, em várias fases da minha vida. Até no desemprego! Cheguei a escrever crônicas para uma revista canina usando seu nome e sua foto. Também um livro infanto-juvenil, Mordidas que Podem Ser Beijos, em que é o protagonista. Muita coisa inventei. Mas não sua mania de fugir de casa. Quando morei numa chácara na Granja Viana, Uno escalava o alambrado com a agilidade de um gato. Assim são os huskies, um tanto felinos. Disparava até o lago e fugia com um pato entre os dentes. Eu que me visse às voltas com a direção do condomínio – donos são para quebrar o galho, devem pensar os cachorros. Escondia-se na reserva florestal e só voltava ao entardecer, com o estômago cheio!

Um terror, o meu cachorro! Duas vezes, bravamente, capturou ouriços. Dezenas de espinhos penetraram seu pêlo. Entraram em sua boca. Eu nunca vira um espinho de ouriço. É duro, pontudo! Impressionante. Fiquei a seu lado enquanto o veterinário arrancava um por um.

Mudei para a cidade. Meu cachorro envelheceu e passa longas horas deitado a meu lado vendo televisão. Deve achar um absurdo tantos tiros, beijos, lágrimas e juras de amor. Gosta de, simplesmente, ficar do meu lado. Ao olhá-lo, tenho uma sensação de conforto. Às vezes se levanta, bota a cabeça nas minhas pernas e eu coço suas orelhas. Sua boca se estica. Tenho a impressão de que é um sorriso.

Há algum tempo começou a ficar doente. Ainda parece saudável. Seu pêlo castanho brilha. Mas surge uma coisa aqui, outra ali. Toma remédio para o coração. Laxantes. Chega a uivar baixinho – huskies não latem.

É a terceira vez que o envio ao veterinário em duas semanas. Agora, nem conseguia ficar em pé, de tão frágil. Sinto angústia só de pensar em sua imensa solidão, longe do tapete onde costuma dormir, sendo picado, mal comendo e, principalmente, sem alguém que lhe acaricie o pêlo. A doença deve ser um mistério para ele mesmo.

O amor de um cão é incondicional. Vejo mendigos na rua acompanhados de cachorros esquálidos que não os abandonam e até os protegem nas noites escuras. Vejo crianças a quem o cão ajuda a conhecer o afeto. Eu sei que meu cachorro está partindo. Se não for agora será daqui a semanas ou meses, pois uma coisa vira outra, e outra. Ou ele não conseguirá resistir ou chegará a um ponto em que terei de dar um nó no coração e abreviar seu sofrimento. Eu tenho de resistir e fazer o melhor. Coçar sua barriga e falar palavras docemente. E, se puder, quando chegar a hora, colocá-lo em meu colo e dizer quanto o amo.

Quando me sentei diante do computador, queria escrever linhas engraçadas, repletas de bom humor. Foi impossível. Meu sentimento falou mais alto. Quem já amou um cão entende minha dor.


Quando a gente acha que tem todas as respostas,
vem a vida e muda todas as perguntas …
Luís Fernando Veríssimo

As Vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas… O tempo passa… e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!
Bob Marley

Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia.
Paulo Coelho
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém. Posso, apenas, dar boas razões para que gostem de mim e ter a paciência para que a vida faça o resto…
William Shakespeare
“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava,
eles existiam.”
(A Hora da Estrela)
Clarice Lispector
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você
não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa
qualquer entendimento.”
Clarice
Lispector
“Minha força está na solidão. Não tenho medo nem
de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o
escuro da noite.”
Clarice Lispector
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se
sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

Clarice Lispector

Quase

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Que Fazem os Vagalumes de Dia


- Pa-ô-la (desde o começo ele a chamara assim, como se o nome dela fosse espanhol), este nosso caso...
- Que caso?
- Nós não estamos tendo um caso?
- Que idéia, Dan!
Ele se chamava Daniel.
- Se nós não estamos tendo um caso, estamos tendo exatamente o quê?
- Sei lá, mas caso não é.
- Pa-ô-la...
- Caso é assim uma coisa clandestina. Adultério. Precisa ser casado.
- Acho que quando tem sexo no meio, é caso. Independente do estado civil.
- Que idéia! Nada disso. O que nós estamos tendo é um namoro.
- Não. Namoro eu conheço. Não é namoro.
- Então é amizade. Só porque a gente dorme junto não pode ser amizade?
- Pa-ô-la. Há sete meses nós só dormimos um com o outro. Nos vemos todos os dias. Andamos abraçados na rua.
- Então. Uma boa amizade.
- Comemos sorvete de casquinha com a mesma colher, Pa-ô-la.
- E daí?
- Em certas sociedades primitivas, comer sorvete de casquinha com a mesma colher vale mais do que pacto de sangue.
- Não vem.
- E o que você diz quando você está tendo um...
- Eu sei o que eu digo!
- “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão.”
- É a emoção, ora. Nessas horas a gente diz qualquer coisa. Uma amiga minha grita o nome de todos os apóstolos. E você, que quando me vê só falta chorar? Mesmo que a gente tenha dormido junto na noite anterior. Oito horas sem me ver e faz um escândalo.
- Mas eu estou tendo um caso com você. Um caso muito bonito. Pena que você não esteja participando dele.
- Não vem, Dan.
- Não. Tudo bem. Somos apenas bons amigos. Onde está escrito “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão”, leia-se “Ai que bom”.
- Está certo. Não é amizade. Mas não é caso.
- Romance.
- Também não.
- Um espasmo. Um descontrole hormonal.
- Pára.
- Uma história.
- Isso. Uma história. Está rolando uma história entre nós.
- Que tipo de história?
- Como, que tipo?
- Cômica, séria, trágica... Acaba como?
- E eu sei?
- Só pra minha orientação.
- Por que isto, de repente? Por que esta preocupação? Estamos tendo um ca... uma história legal, sem grilo...
- Mas nós não sabemos o que é. Você não tem necessidade de saber o que está acontecendo com você?
- Pra quê? Deixa acontecer.
- Imagina se esta história acaba num crime. Tudo que está acontecendo agora ganha outro significado. Nós podemos estar vivendo o prólogo de uma tragédia sem saber. Se a gente soubesse o que é, e como acaba...
- Ah, é? Se eu soubesse que você ia me matar no fim, sabe o que eu fazia? Matava você agora. Rá, rá. Mudava o fim.
- Exatamente! Nós precisamos saber o que está nos acontecendo para agir conscientemente, para aproveitar melhor a história e até mudá-la.
- E, mesmo, você é incapaz de matar uma mosca.
- Mas você não me viu com mosquitos.
- Quer saber de uma coisa?
- Uma vez, quando eu era guri, desmembrei uma formiga. Você não me conhece.
- Me ouve.
- E se esta história acaba em casamento? Filhos, essas coisas. Hein? E se acaba em almoços de Domingo e planos de saúde? Nós precisamos saber no que estamos nos metendo!
- Sabe que eu acho que vou mesmo matar você? Assim você fica sabendo o fim e pára de chatear.
- Pa-ô-la...
- Taí. É um conto.
- Um conto?!
- Daqueles que começa no meio de um diálogo, não acontece nada e termina no ar. Ninguém fica sabendo o que vai acontecer depois.
- Não faz isso comigo, Pa-ô-la.
- Com um título que não tem nada a ver com nada.
- Um conto, Pa-ô-la? Isto é só um conto? Um naco de história? Um diálogo perdido? Um...

Luis Fernando Verissimo, Comédias da Vida Privada

Reflexões Michelly Matos

Porque é tão difícil encontrar realização nas coisas que realmente importam? Por que as pessoas não são sinceras com você, mesmo que você implore e se descabele por isso?! Eu realmente não me importaria de ter um Luís Fernando – não, não é o Veríssimo! - Guimarães bancando “O Super Sincero” na minha vida. Sério! Tenho certeza – mais que absoluta – que nunca mais ia andar feito uma desvairada por aí! Isso pra dizer o menos!

No livro “A Ladeira da Saudade” do Ganymedes José, tem uma passagem que é mais ou menos assim: Marília, a personagem principal, ao conversar com seu pai diz que não gosta da sua tia-avó – tia Nicota – porque a acha chata e metida. Mas na verdade o defeito de tia Nicota é excesso de sinceridade. O pai lhe responde mais ou menos assim: você prefere um amigo falso ou um inimigo sincero? Eu prefiro o inimigo sincero, pelo menos eu posso confiar nele. E a tia Nicota não é sua inimiga; daí você tem nela uma amiga sincera, não é uma boa?

Bem a Marília fica super-amiga da tal tia chata, e no fim das contas é ela que ajuda-a a viver seu grande amor. E as duas se unem para convencer a mãe perua que o amor é o mais importante.

Bem eu acho que tenho inimigos sinceros – eu já pude constatar – e agora estou descobrindo – bem, não foi exatamente agora... infelizmente já faz tempo que essa pulga pregou na minha orelha...- que talvez eu tenha amigos falsos... Pô, se você não gostou de alguma atitude minha seja verdadeira o suficiente para me dizer! Você acha que é difícil demais conversar comigo, beleza... mas “preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer”. Se você não consegue dizer para mim, então não diga para outrem.

As decepções vão se acumulando... Por que nunca são coerentes comigo? Eu só quero receber o que eu dou. Se eu sou sincera, no mínimo espero sinceridade. Eu não falo mal de vocês pelas costas! Tudo que sai da minha boca sobre vocês, podem ter a mais absoluta certeza que eu já comuniquei a vocês!

Não se pode ter tudo... Mas pô, eu não tô pedindo muito... Só um amigo – ao menos um! – que me compreenda, seja sincero, saiba guarda a dor, que sorria e, sobretudo, que não me decepcione. Não falo de atritos, nem comportamentos que não me agradem. Tudo que peço é lelaldade.

segunda-feira, 2 de março de 2009

(Uma banalidade que se transformou em sentimento, para a pessoa mais importante da minha vida.) *

Pássaros (de pelúcia) cantam em minha escrivaninha
A luz fluorescente me ilumina
Um sorriso que me encanta
Uma boneca que me diz incessantemente:
“Você é muito especial”
O Tim me fala em chocolate
Lembro de uma doce criatura
“não quero guaraná”
Só quero dizer o quanto a amo
Light... Poderia flutuar, fugir
Mas algo me prende:
“Eu a amo”
Seis letrinhas, que jamais me deixariam ir...
E Eu a amo!

*foi pra tia Zeneide, eu quase choro quando o mostrei:
- É lindo. Obrigada. Disse ela, e um sorriso pairava em seus lábios.

o.....Ooo

Estou vazia
O som ecoa dentro de mim
Estou vazia

Balanças ambulantes Michelly Matos

Não consigo entender a mentalidade de certas pessoas... Hoje em dia com a mídia nos alienando e a sociedade com o um todo afirmando que o ideal de beleza é uma mulher magra, não importa a cor (mas branca é preferível), cabelo liso, olhos claros, bumbum (preferência nacional) é fundamental, e na falta de seios, é bom juntar dinheiro para por uma prótese de silicone. Mas, já prestou atenção? Quando estamos, bem... - como posso dizer? - excesso de fofura, não falta quem nos aconselhe a começar um regime à base de alface e água, entrar numa academia, e, em último caso, tentar um spa ou a redução de estômago (que já está virando moda). Mas quando emagrecemos as mesmas pessoas aconselham um caldinho de mocotó que é “pra mode” dá sustança ! ou engordar mesmo!
Preocupadas com os quilinhos a mais, tomamos vergonha na cara e iniciamos uma dessas dietas da revista Malu. Você tenta se controlar, afinal se não é uma Angelina Jolie da vida, pelo menos (tenta) melhorar o que Deus te deu...
De repente todos começam a te oferecer tentaçõezinhas, todas com centenas de quilocalorias, usando o slogan: “ah, um só não faz mal!”. Você cai em si e vê que o mundo está rodeado de guloseimas e você não pode se deixar abater. Sua vida segue um triângulo: de casa para o trabalho, do trabalho para a academia, da academia para casa, durante três meses.
Eis que depois de tanto esforço, você conseguiu finalmente afinar a silhueta! Chegou a hora de mostrar para todos seu lindo corpinho moldado a duras penas! As pessoas olham espantadas. Oh! Você se delicia pensando: “Estou sendo a maior sensação! Estão de queixo caído! Morram de inveja, peruas!”.
Uma das “peruas” se aproxima com um sorriso nos lábios, você se prepara para receber o elogio, e, de repente, o balde de água fria:
- O que aconteceu querida? Você está tão magra! Está doente? Olha, eu sei uma receita infalível que levanta até defunto...
Doente! Todo aquele esforço: horas na academia, jejuns, festas dispensadas... E tudo que você recebe é : “está doente, querida?”! você sai de perto da bruaca com ódio... E nas suas costas ficam cochichando: “Acho que é câncer... Daqui a pouco ela começa a ficar careca!...”
Conclusão: pra quê se importar com a mídia?! Seus amigos gostam de você do jeito que é! Sem tirar nem pôr... Desista dessa vida de regime e exercício, não vale à pena... Bom e agora já vou indo porque está na hora da minha academia, né?!

Vida de ladrão

Hoje em dia está cada vez mais comum ser vítima de um roubo, furto ou acidente. Na verdade, até nos assustamos quando passamos pouco mais de um mês sem notícias de que algum vizinho ou parente foi assaltado... Os ladrões não são mais aqueles meliantes tidos como marginalizados pela sociedade. Pensando bem já fazem parte do nosso cotidiano.
Sei do caso de um amigo meu, Felipe Newton, que, depois de uito juntar dinheiro no seu cofrinho, foi comprar um boné que estava na moda – não vou falar a marca, este livro não é patrocinado! -. Entrou na loja todo descolado, fez o coitado do vendedor pôr abaixo todo o estoque de acessórios para a cabeça, muito embora já soubesse qual item queria. Comprou. Saiu da loja todo feliz, de boné novo, e – oba! – ainda tinha sobrado uma graninha pra bater perna no shopping. Quando dobra a esquina depara-se com um cara:
- Passa o boné, o celular (o pobre nem celular tinha!) e o dinheiro também! Felipe, que tem amor à vidinha dele, entregou o exigido sem hesitar. Após isso, o ladrão abriu um sorriso cordial, cumprimentou-o com um usual aperto de mão tipicamente jovem e falou:
- Valeu irmão! Qualquer dia eu te assalto de novo!
Então, pelo rumo que as coisas estão tomando, daqui uns dias estaremos até preparando lanchinho para a “viagem” pros caras! Já imagino a cena:
Uma dupla de ladrões invade uma casa durante a noite – se bem que o mundo anda tão desnorteado que está se tornando comum até assaltos durante o dia -, só há um jovem casal em casa. Enquanto o marido, muito gentil por sinal, vai abrir o cofre na biblioteca (por que eles sempre colocam na biblioteca? E atrás de um quadro, ainda por cima!), comenta:
- O senhor por acaso, seu ladrão, sem ofensas, viu aquela pouca vergonha da CPMF?
- Vi sim, doutor. P... que pariu! E eles ainda têm a cara-de-pau de dizer que o dinheiro é pra investir na saúde!
- Concordo plenamente. O Brasil já tem impostos demais!
- É por isso que gosto do meu trabalho! Não tem essa de pagar taxa pro governo. Aquele bando de ladrões! Se o senhor quiser arranjo uma sociedade pro doutor também. Diz o ladrão com um olhar cúmplice.
Enquanto isso na cozinha, o sócio já está sem jeito com a dona da casa, que está preparando petit gateau.
- Dona, eu fico muito agradecido, mas não precisa se incomodar. Fala o ladrão encabulado. “Coisa chata, ela é tão legal e eu roubando ela!”
- Não é incômodo nenhum, meu querido. Como é mesmo o seu nome?
- Posso dizer não, dona, desculpa, mas é da profissão...
- Oh, sim! Desculpa, peço eu. Como sou tonta! Mas como eu ia dizendo, adoro cozinhar...
Nisso entra o sócio com o dono da casa.
- Vocês nos dão licença que nós já estamos indo. Despede-se ele.
- Seus safados, insolentes, sem coração! Só saem depois de comer o petit gateau com sorvete de creme! Os ladrões se entreolham. Melhor comer pra não irritar tão gentil “anfitriã”, vai que ela resolve se vingar, matando-os com um rolo de macarrão!
Nem mastigam direito, mas acham o tal do “petí gatô” muito gostoso.
Os donos da casa vão deixar os “convidados” até a porta. A esposa ainda convida:
- Meninos, apareçam de novo, aí faço um filé ao molho madeira.
- Claro, pode deixar. E desculpa pelas jóias e pelo dinheiro. Diz meio sem jeito o cabeça da “organização”.
- Não. O que é isso? Da próxima vez eu faço um cheque, pra vocês não terem que carregarem coisas. Isso acaba com a coluna. E além do mais, eu sei o quanto é difícil o trabalho de vocês. Fala compreensivo o marido.
- Tchau, vocês. Na quarta a gente vem comer o rango!

Comunicação Luís Fernando Veríssimo

Casais com problemas de comunicação têm um antecedente antigo. Adão e Eva, segundo Genesis.
Pode-se imaginar o clima quando Adão acordou e levou dois sustos: estava sem uma costela e com uma mulher. Especula-se que os dois levaram dois dias para se falar. Para começar, não tinham sido formalmente apresentados. E que assunto poderiam ter, naquele primeiro encontro?
- Como foi seu dia?
- Nem me fale. Até a hora da sesta estava tudo normal. Depois eu sofri uma cirurgia e mudei de estado civil e a população da Terra duplicou, tudo em questão de horas.
- E eu? Há horas eu nem existia. Agora estou aqui, mulher feita, nua e falando aramaico.Minha tese é que Adão e Eva só se falaram no terceiro dia, e assim mesmo porque Adão foi levado por uma necessidade premente.
- Me coça atrás?
E Eva coçou suas costas, e Adão finalmente compreendeu os desígnios do Senhor ao criar a mulher. Embora nos anos que se seguiram não fossem poucas as vezes em que pensou em dizer a Deus que preferia sua costela de volta.
Quando passaram a ter assunto, Adão e Eva despertaram o ciúme de Deus.
Porque tinham uma coisa em comum da qual Deus não compartilhava: a humanidade, suas glórias e suas misérias. Os banhos de riacho e o medo do escuro, o cafuné e o furúnculo. E Deus providenciou o pecado para ter um motivo nobre para expulsá-los do Paraíso, já que não podia só alegar tagarelice. E quando a prole de Adão e Eva deu sinais de entendimento, pois falavam a mesma língua e celebravam a mesma humanidade, Deus decretou a destruição de Babel e a confusão das línguas. E assim duas vezes usou Deus o demônio para criar a desarmonia entre os homens. Primeiro na forma da Serpente. Depois na forma do Mau Tradutor.
Mas tudo que é humano quer se comunicar. Sem a mulher, Adão arranjaria outro jeito de coçar as costas. Talvez encontrasse até uma maneira de se reproduzir sozinho. Afinal, anos depois, um descendente seu inventou o xerox. Quando Deus lhe deu a mulher não lhe deu uma fêmea, uma companheira ou alguém para cuidar das suas camisas. Deu o que ele precisava para progredir, a precondição para o autoconhecimento e a razão, sem falar na literatura.
Um interlocutor.

Meu adorável vagabundo Luis Fernando Veríssimo

A gente ri da menina que, às vésperas do vestibular, não sabe se tenta letras, educação física ou oceanografia, sem descartar nutricionismo e um bom casamento, mas o fato é que todos nós passamos pelo mesmo tipo de indefinição, Eu, por exemplo, já quis ser aviador, tocador de pistom, arquiteto e, durante um bom período de pós-adolescência, vagabundo profissional, e só não consegui esta última vocação porque a família, por alguma razão, se opôs. Uma das coisas que eu nunca pensei ser foi jornalista.
Não posso imaginar qual seria o resultado se algum dia eu tivesse feito um teste vocacional.
– Temos aqui os resultados de seu teste e eles são interessantíssimos, sr. Veríssimo.
– Ah, é?
Finalmente a revelação. Eu mesmo ia descobrir para que servia.
– É a primeira vez que chegamos a um resultado assim desde que começamos a fazer testes. Deve ser a primeira vez em toda a história da psicologia, em todo o mundo.
– Não diga!
– O senhor é o primeiro caso conhecido de alguém que tem vocação para aposentado!
Aposentado é o vagabundo sem culpa e com renda. Embora, no Brasil, renda insuficiente.
O problema seria que eu precisaria ser aposentado de alguma profissão. Não há curso de aposentado. Como entrar em fila, como sentar em banco de praça, como não fazer nada e incomodar em casa. Pós-graduação em azucrinar empregada. Começando a vida como aposentado, eu, nem que fosse só pela juventude, seria um aposentado ativista. Seria imbatível em todos os jogos de aposentados que requeressem esforço físico.
Se bem que, com a minha vocação de aposentado realista, para que entrar em qualquer coisa que requeresse esforço físico? Não. Jogos de damas, longas sestas, muita leitura. Eu subiria lentamente na carreira de aposentado, ficando cada vez mais indolente, até chegar a hora de parar e pedir a aposentadoria, claro.
Não podendo seguir meu pendor natural para não fazer nada, acabei fazendo tudo. O sonho de ser aviador não sobreviveu à infância, mas cheguei a providenciar o começo de uma possível carreira como pistonista. Nos Estados Unidos, onde moramos uma certa época, procurei um curso de música que emprestava instrumentos. Não tinham pistom no momento. Peguei saxofone mesmo. Ainda toco, eventualmente, se bem que haja discussões sobre se “tocar” é o verbo exato – e ainda imagino que um dia possa me dedicar ao show bizz em tempo integral, se 72 anos não for muito tarde para começar. Geriatric rock, por que não?
Arquitetura, tradicionalmente, é a primeira escolha de quem sabe ter uma profissão séria, mas não tão séria assim. É a engenharia de quem não quer fazer engenharia, e o refúgio dos indecisos. Há provavelmente mais ex-estudantes de arquitetura fazendo outra coisa – normalmente nas artes – do que ex-estudantes de qualquer outro curso. Querer arquitetura, portanto, era querer fazer alguma coisa criativa, que até podia ser a arquitetura.
No meu caso não foi. Nem comecei nada. Parei de estudar e só quando entrei, quase por acaso, no jornalismo, muitos anos depois, numa época em que o diploma ainda não era obrigatório, descobri uma vocação ou pelo menos uma maneira de passar o tempo até a aposentadoria, quando finalmente poderei exercer minha aptidão natural. Não sou um exemplo muito edificante, eu sei. Só queria mostrar que a indecisão não é incomum, e não é tão grave. A vocação da pessoa pode, inclusive, ser a indecisão.
Luis Fernando Verissimo O Estado de São Paulo 11 de janeiro de 1990

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

TIMTIM - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO




Timtim

Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico, como a braça, a légua, etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de segundo ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez correspondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das microcoisas. Há quem diga que não existe uma fração mínima de matéria, que tudo pode ser dividido e subdividido. Assim como existe o infinito para fora - isto e, o espaço sem fim, depois que o Universo acaba - existiria o infinito para dentro. A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por diante, até a loucura.

Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, e a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomatopaico que evoca o tinido das moedas. Originalmente, portanto, "tintim por tintim" indicava um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda. Isso no tempo em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao contrário de hoje, quando são feitas de papelão e se chocam sem ruído. Numa investigação feita hoje da corrupção no país tintim por tintim ficaríamos tinindo sem parar e chegaríamos a uma nova concepção de infinito.

Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha aí, a inflação já levou dois rins). Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz. O Aurelião não nos ajuda. "Triz", diz ele, significa por pouco. Sim, mas que pouco? Queremos algarismos, vírgulas, zeros, definições para "triz". Substantivo feminino. Popular. "Icterícia." Triz quer dizer icterícia. Ou teremos que mudar todas as nossas teorias sobre o Universo ou teremos que mudar de assunto. Acho melhor mudar de assunto. O Universo já tem problemas demais.


- Extraído do livro Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo


Crônica da loucura

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco:o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra.

Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou. Durante quarenta anos, passei longe deles.

Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas.

Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.

Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura.

E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um 'consultório médico', como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:

Na última quarta-feira, estávamos

1. Eu

2. Um crioulinho muito bem vestido,

3. Um senhor de uns cinqüenta anos e

4. Uma velha gorda.

1) Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.

2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do 'Harmonia do Samba'? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.

3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem.Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra.

Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não.

Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava.

Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse. Acabou o meu tempo.

Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.

Conto para ele a minha 'viagem' na sala de espera.

Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz:

- O Ditinho é o nosso office-boy.

- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.

- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe. E você, não vai ter alta tão cedo...
SEXA

- Pai...
- Hmmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino...
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe, porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer... Olha aqui: tem sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria "o pal..."
- Chega! Vai brincar, vai...
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática...