segunda-feira, 13 de abril de 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Que Fazem os Vagalumes de Dia


- Pa-ô-la (desde o começo ele a chamara assim, como se o nome dela fosse espanhol), este nosso caso...
- Que caso?
- Nós não estamos tendo um caso?
- Que idéia, Dan!
Ele se chamava Daniel.
- Se nós não estamos tendo um caso, estamos tendo exatamente o quê?
- Sei lá, mas caso não é.
- Pa-ô-la...
- Caso é assim uma coisa clandestina. Adultério. Precisa ser casado.
- Acho que quando tem sexo no meio, é caso. Independente do estado civil.
- Que idéia! Nada disso. O que nós estamos tendo é um namoro.
- Não. Namoro eu conheço. Não é namoro.
- Então é amizade. Só porque a gente dorme junto não pode ser amizade?
- Pa-ô-la. Há sete meses nós só dormimos um com o outro. Nos vemos todos os dias. Andamos abraçados na rua.
- Então. Uma boa amizade.
- Comemos sorvete de casquinha com a mesma colher, Pa-ô-la.
- E daí?
- Em certas sociedades primitivas, comer sorvete de casquinha com a mesma colher vale mais do que pacto de sangue.
- Não vem.
- E o que você diz quando você está tendo um...
- Eu sei o que eu digo!
- “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão.”
- É a emoção, ora. Nessas horas a gente diz qualquer coisa. Uma amiga minha grita o nome de todos os apóstolos. E você, que quando me vê só falta chorar? Mesmo que a gente tenha dormido junto na noite anterior. Oito horas sem me ver e faz um escândalo.
- Mas eu estou tendo um caso com você. Um caso muito bonito. Pena que você não esteja participando dele.
- Não vem, Dan.
- Não. Tudo bem. Somos apenas bons amigos. Onde está escrito “Dan, Danzinho, amor, vida, paixão”, leia-se “Ai que bom”.
- Está certo. Não é amizade. Mas não é caso.
- Romance.
- Também não.
- Um espasmo. Um descontrole hormonal.
- Pára.
- Uma história.
- Isso. Uma história. Está rolando uma história entre nós.
- Que tipo de história?
- Como, que tipo?
- Cômica, séria, trágica... Acaba como?
- E eu sei?
- Só pra minha orientação.
- Por que isto, de repente? Por que esta preocupação? Estamos tendo um ca... uma história legal, sem grilo...
- Mas nós não sabemos o que é. Você não tem necessidade de saber o que está acontecendo com você?
- Pra quê? Deixa acontecer.
- Imagina se esta história acaba num crime. Tudo que está acontecendo agora ganha outro significado. Nós podemos estar vivendo o prólogo de uma tragédia sem saber. Se a gente soubesse o que é, e como acaba...
- Ah, é? Se eu soubesse que você ia me matar no fim, sabe o que eu fazia? Matava você agora. Rá, rá. Mudava o fim.
- Exatamente! Nós precisamos saber o que está nos acontecendo para agir conscientemente, para aproveitar melhor a história e até mudá-la.
- E, mesmo, você é incapaz de matar uma mosca.
- Mas você não me viu com mosquitos.
- Quer saber de uma coisa?
- Uma vez, quando eu era guri, desmembrei uma formiga. Você não me conhece.
- Me ouve.
- E se esta história acaba em casamento? Filhos, essas coisas. Hein? E se acaba em almoços de Domingo e planos de saúde? Nós precisamos saber no que estamos nos metendo!
- Sabe que eu acho que vou mesmo matar você? Assim você fica sabendo o fim e pára de chatear.
- Pa-ô-la...
- Taí. É um conto.
- Um conto?!
- Daqueles que começa no meio de um diálogo, não acontece nada e termina no ar. Ninguém fica sabendo o que vai acontecer depois.
- Não faz isso comigo, Pa-ô-la.
- Com um título que não tem nada a ver com nada.
- Um conto, Pa-ô-la? Isto é só um conto? Um naco de história? Um diálogo perdido? Um...

Luis Fernando Verissimo, Comédias da Vida Privada

Reflexões Michelly Matos

Porque é tão difícil encontrar realização nas coisas que realmente importam? Por que as pessoas não são sinceras com você, mesmo que você implore e se descabele por isso?! Eu realmente não me importaria de ter um Luís Fernando – não, não é o Veríssimo! - Guimarães bancando “O Super Sincero” na minha vida. Sério! Tenho certeza – mais que absoluta – que nunca mais ia andar feito uma desvairada por aí! Isso pra dizer o menos!

No livro “A Ladeira da Saudade” do Ganymedes José, tem uma passagem que é mais ou menos assim: Marília, a personagem principal, ao conversar com seu pai diz que não gosta da sua tia-avó – tia Nicota – porque a acha chata e metida. Mas na verdade o defeito de tia Nicota é excesso de sinceridade. O pai lhe responde mais ou menos assim: você prefere um amigo falso ou um inimigo sincero? Eu prefiro o inimigo sincero, pelo menos eu posso confiar nele. E a tia Nicota não é sua inimiga; daí você tem nela uma amiga sincera, não é uma boa?

Bem a Marília fica super-amiga da tal tia chata, e no fim das contas é ela que ajuda-a a viver seu grande amor. E as duas se unem para convencer a mãe perua que o amor é o mais importante.

Bem eu acho que tenho inimigos sinceros – eu já pude constatar – e agora estou descobrindo – bem, não foi exatamente agora... infelizmente já faz tempo que essa pulga pregou na minha orelha...- que talvez eu tenha amigos falsos... Pô, se você não gostou de alguma atitude minha seja verdadeira o suficiente para me dizer! Você acha que é difícil demais conversar comigo, beleza... mas “preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer”. Se você não consegue dizer para mim, então não diga para outrem.

As decepções vão se acumulando... Por que nunca são coerentes comigo? Eu só quero receber o que eu dou. Se eu sou sincera, no mínimo espero sinceridade. Eu não falo mal de vocês pelas costas! Tudo que sai da minha boca sobre vocês, podem ter a mais absoluta certeza que eu já comuniquei a vocês!

Não se pode ter tudo... Mas pô, eu não tô pedindo muito... Só um amigo – ao menos um! – que me compreenda, seja sincero, saiba guarda a dor, que sorria e, sobretudo, que não me decepcione. Não falo de atritos, nem comportamentos que não me agradem. Tudo que peço é lelaldade.